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26
Maio
09

ARG, fusão entre o real e o virtural

arg

Um texto por Pedro Drable explica a função do ARG,está ligado ao Marketing viral.


São 3h da manhã. Você está suando frio. Acabou de receber uma ligação absurda, de um homem que diz ser da empresa que você está investigando e que você se arrependerá de ter ido tão longe. Você precisa colocar isso no Orkut, no MySpace, em qualquer lugar. Todos precisam saber de sua descoberta. Você está nervoso de verdade. E pensar que isso era só um jogo.

Pode parecer loucura, mas situações parecidas

já aconteceram com mais gente do que você imagina. Os ARGs, ou Alternate Reality Games, são jogos que misturam elementos do mundo real e virtual, criando um complexo quebra-cabeça a ser desvendado pelo jogador. Os ARGs são usados atualmente por várias empresas como ferramentas de marketing viral, dando visibilidade para a marca e gerando cobertura de media.

Hoje, o OutraCoisa entrevista Luiz Adolfo Andrade, profissional de Comunicação especializado em ARGs e responsável pelo game “Obsessão Compulsiva”, feito para divulgar o filme “Meu Nome Não É Johnny”. Ele vai nos dizer como é que se cria este tipo de jogo, o que é necessário para se entrar neste mercado e o que faz um bom jogador de ARGs.

OutraCoisa – Luiz, antes de mais nada, você pode explicar melhor o que é e como funciona um ARG?

Luiz Adolfo Andrade – Os ARGs são jogos experimentados em ambientes virtuais que usam o mundo real como pano de fundo para a história. A narrativa consiste basicamente em séries intensas de enigmas, que se desenrolam através dos meios de comunicação – telefone, jornais, computador, televisão, etc.

Os jogadores devem se reunir para tentar decifrá-las e avançar na historia. O ARG é um passo além no caminho iniciado pelos RPGs e jogam com todos os prazeres deste tipo de entretenimento – formação de comunidades, incorporação de papéis etc. Recentemente, estes games estão comprovando sua eficácia em campanhas de marketing viral, um dos temas que desenvolvo em minha tese de doutorado.

OutraCoisa – Qual a sua formação e como você entrou neste mercado?

Luiz Adolfo Andrade – Sou formado em jornalismo, mestre em comunicação social na linha de tecnologia da comunicação e informação (UFF) e agora doutorando em comunicação na linha de Cibercultura (UFBA). Os ARGs são jogos novíssimos, os primeiros exemplos no mundo datam de 2001. Como sou um jogador confesso, escolhi estes games como objeto para trabalho de doutorado. Alguns produtores interessados no tema souberam de minha pesquisa e me chamaram para trabalhar criando ARGs. São poucos profissionais que fazem estes jogos no Brasil.

OutraCoisa – Parece ser bem complicado montar um ARG do início ao fim. Que tipo de conhecimento, habilidades ou interesses te fizeram apto a planejar um ARG?

Luiz Adolfo Andrade – Não é complicado, não. O difícil é manter o jogo interessante durante toda a sua duração. Para isso, é imprescindível você conhecer estes games “por dentro” e saber os prazeres que os jogadores querem reconhecer neste produto, pois a grande habilidade de quem cria ARGs é não desagradar a comunidade que se forma em torno dos jogos. Se os próprios jogadores não reconhecerem seu ARG como um ARG, ele evidentemente não funcionará. Para isso, uma série de elementos e características deve ser respeitada para que sua idéia não vire um tiro no pé.

OutraCoisa – Obviamente, o trabalho de manter um ARG funcionando não pode ser feito por uma pessoa só. Como se estrutura a equipe responsável por esse tipo de game?

Luiz Adolfo Andrade – Geralmente, existe um profissional responsável por criar a historia, elaborar e gerenciar os enigmas – chamado Puppetmaster (do português, “titereiro”), este é o pilar do ARG. A equipe conta também com animadores de rede, que dão vida aos personagens dos ARGs, criando perfis em sites de relacionamento na Internet, atualizando páginas, estabelecendo comunicação pelo computador, etc. É necessário ainda um programador, para criar alguns sites, atores (que dão cara aos personagens do ARG) e uma equipe técnica, para produzir fotos e vídeos.

OutraCoisa – Várias empresas, principalmente as que trabalham com entretenimento, usaram os ARGs para divulgar produtos. É muito cara a produção de um ARG?

Luiz Adolfo Andrade – Não diante de outras produções. Os ARGs envolvem baixos custos porque os vídeos, por exemplo, devem parecer amadores – feitos pelas próprios personagens, usando câmeras baratas ou ate mesmo aparelhos celulares. A mídia mais utilizada é o computador/Internet, que custa muito pouco também.

OutraCoisa – Você foi o “mentor” por trás do ARG “Obsessão Compulsiva”, que divulgou o filme “Meu Nome Não É Johnny”. Como este trabalho chegou até você?

Luiz Adolfo Andrade – Mentor não, Puppetmaster (risos). Como te disse, a produtora (Raccord Produções) responsável pelo marketing viral do filme tomou conhecimento da minha pesquisa de doutorado e decidiu apostar no ARG e em mim. No final a experiência deu certo e sou eternamente grato a eles por terem aberto esta porta no mercado para mim. Hoje me sinto um sujeito privilegiado, pois ganho a vida pesquisando e desenvolvendo ARGs.

OutraCoisa – E como foi o processo de criação do enredo do game? Os roteiristas do filme tiveram muita influência nesta etapa?

Luiz Adolfo Andrade – O roteiro do “Obsessão Compulsiva” foi projetado para ser uma historia paralela à do filme, mas que em certos momentos deveria tocá-la. Logicamente, para fazê-la, tivemos a aprovação da roteirista de “Meu Nome Não é Johnny” (a Mariza Leão). Ela também nos ajudou a criar a história do ARG, dando conselhos importantíssimos.

OutraCoisa – Fale sobre o que foi feito no “Obsessão Compulsiva”. Como foi a reação dos jogadores aos personagens e ao enredo?

Luiz Adolfo Andrade – No começo, a gente fica um pouco receoso do projeto não dar certo. Mas, como disse anteriormente, a gente deve conhecer os prazeres específicos deste games para agradar os jogadores. O jeito que a historia se desenrola e os personagens se manifestam deve atender a mesma lógica de outros ARGs, para a experiência ser legitimada.

OutraCoisa – É verdade que descobriram que você estava por trás do ARG? Como foi esse “assédio” dos jogadores?

Luiz Adolfo Andrade – Sim, e olha que eu cuidei para não ser descoberto – aliás, nenhumPuppetmaster gosta de ser descoberto, faz parte do jogo. Mas os jogadores são muito espertos, e acabaram me descobrindo através de pistas (como um reportagem publicada no Globo Onlinemeses antes do jogo) que já estavam soltas na Internet e nem eu mesmo sabia. No final das contas, gostei de ser descoberto porque acabei conhecendo alguns jogadores e que hoje considero meus amigos.

OutraCoisa – Que outros ARGs se destacaram no Brasil e no mundo? Fale um pouco sobre eles.

Luiz Adolfo Andrade – No Brasil, acho o principal expoente o “Zona Incerta” (Guaraná Antártica e Superinteresante). Foi um projeto com uma verba altíssima e deu super certo. Teve inclusive aquele episódio no senado que marcou o jogo*. O “Obsessão Compulsiva” foi reconhecido como o primeiro ARG brasileiro ligado a um produto da indústria cinematográfica.

No exterior, considero o “Lost Experience” (da serie “Lost”) e o “I am trying do believe” (da banda Nine Inch Nails) os melhores. Mas louvo também o “The Beast”, criado pelo diretor Steven Spielbergno filme “Inteligência Artificial” (IMDB), que foi o pioneiro dos ARGs.

* O ARG Zona Incerta apresentava como “vilão” uma empresa estrangeira em campanha de captação de fundos para comprar a floresta amazônica. O senador Arthur Virgílio acreditou no ARG e levou a questão ao Senado, exigindo que representantes da tal empresa dessem explicações ao governo brasileiro. Até a publicação deste post, a empresa não comentou o caso. Deve ser porque ela não existe.

Veja vídeo sobre este ARG clicando aqui…

OutraCoisa – Onde mais podemos encontrar informações sobre ARGs?

Luiz Adolfo Andrade – Aconselho procurar no jornal eletrônico ARG news e na wiki sobre ARGs.

OutraCoisa – E onde encontramos mais informações sobre o seu trabalho?

Luiz Adolfo Andrade – Todo o conteúdo que produzo (artigos acadêmicos) está disponível online. Você pode achar também informações no blog do meu grupo de estudos –www.labcult.blogspot.com

E possível também encontrar algum material no site do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal da Bahia – www.poscom.ufba.br – onde faço meu doutorado.

OutraCoisa – Existe algum outro ARG da sua equipe em desenvolvimento? Você pode falar alguma coisa sobre ele?

Luiz Adolfo Andrade – Bom, na verdade eu não tenho uma equipe definida. Tenho evidentemente pessoas em que confio (animadores de rede) e que trabalham comigo, mas tudo depende do momento e disponibilidade dos meus parceiros. Logicamente tenho os nomes de minha preferência, mas se alguém não puder trabalhar, tenho outros para chamar. A parte técnica é mais fácil.

Depois de finalizar o “Obsessão Compulsiva”, no inicio do ano, tirei umas férias para ter novas idéias. Atualmente, tenho me dedicado apenas à minha tese de doutorado (que é sobre ARGs) pois sou bolsista de produtividade do CNPQ. Neste momento, quero estudar para voltar com carga total no segundo semestre. Existem algumas propostas para criar ARGs ainda este ano, mas são apenas contatos iniciais. A minha expectativa é que aconteça algo durante a segunda metade do ano, até porque estou louco para trabalhar e com a cabeça cheia de idéias. Mas no momento, para chegar com gás total no segundo semestre, estou somente pesquisando, estudando e, é claro, jogando!

OutraCoisa – Na sua opinião, qual é o futuro dos ARGs?

Luiz Adolfo Andrade – Na minha opinião, os ARGs funcionam de maneira extremamente eficaz em estratégias de marketing. Além disso, seguem uma tendência muito forte no exterior, que é a retomada das cidades como um espaço pra jogos. O que funcionaria de maneira esplêndida no Brasil, já que para jogar um ARG nas ruas não é preciso um grande aparato tecnológico (estes são alguns pontos de minha pesquisa de doutorado).

Infelizmente, os ARGs não tem o mesmo investimento no Brasil que no exterior – apesar da procura grande de jogadores em território nacional. Acho que as grande empresas do Brasil deveriam investir mais em ARGs pois o retorno é altíssimo e certo.

OutraCoisa – Para terminar, uma colher de chá. Quais são os truques e segredos para se vencer um ARG?

Luiz Adolfo Andrade – Nenhum. Como em todo RPG, não se pode apontar um vencedor isolado em um ARG – a diversão esta na experiência. A graça é conhecer pessoas, fazer novos amigos e participar de comunidades!


Maíta Ming Buranelli




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